Episódio 1


- 30.000 a.C | - 1000 a.C

Preâmbulo

Antes de abrir propriamente as HISTÓRIA e MEMÓRIAS de São Brás de Alportel, cumpre-nos com esta secção prestar homenagem antecipada pelo "Centenário do Município de São Brás de Alportel 1914-2014" que terá a sua comemoração este ano em conjunto também por mera coincidência, com os cem anos do primeiro filme apresentado por Charlie Chaplin em 1914 "Fazer pela vida".

O nosso projecto cumpre o papel que lhe é destinado com as tecnologias, a mediaKRIATIVE e a sua redação expande-se com a autoria numa vasta pesquisa deste território que é atualmente ocupado pelo concelho de São Brás de Alportel e que esconde a história de muitos milhares de anos, sendo esse o motivo que nos levará a dividir o contexto narrativo em duas secções.

O (primeiro separador) e 1.ª fase, inicia com a pré-HISTÓRIA, ou seja desde a "ocupação humana" a.C. no território, até chegarmos à fundação do Condado de Portucale d.C. com o culminar da conquista de Faro e do resto do Reino do Algarve por Afonso III. A aposta foi sub-dividir os títulos em 6 episódios nesta secção 1 de HISTÓRIA, não vamos especular nem ter como base suposições infundadas, vamos sim ter como alicerce o que supostamente acontecia na maior parte da Península Ibérica. A transição do primeiro milénio em toda a Europa foi algo conturbado desde o início até ao ano 1000, sucessivos acontecimentos encaminham-nos para a formação onde São Brás está incluído como comunidade.

Já no (segundo separador), na secção 2 de MEMÓRIAS, iremos finalizar com os restantes 6 episódios no espaço rural e povoado aqui existente, o desenvolvimento das tradições e costumes desta Vila, concluindo com o reconhecimento da freguesia e o culminar em fotos de memórias até esta ser elevada a concelho em 1914 e chegarmos aos nossos presentes dias.

Em resumo: Como originalidade, partilharemos aqui 12 episódios da nossa (extensa pesquisa) ao misturar uma jornada fictícia (ficção) de modo a narrar uma linha temporal de várias eras na história dos achados e no desenvolvimento da história humana. Para finalizar, em âmbito de nota de rodapé iremos narrar a HISTÓRIA e as MEMÓRIAS da vila, com um arranjo histórico com base em achados arqueológicos reais e acesso a muita documentação externa. A nossa atitude lógica como redatores será uma criação contínua, teremos também em atenção, alguma divulgação que os nossos leitores poderão fornecer, textos de artigo para construção dos acontecimentos destas últimas décadas que serão mais do conhecimento de alguns munícipes e que poderão corrigir ou estar retiradas das nossas pesquisas.

Esperamos que gostem!

Texto publicado por mediaKRIATIVE




Episódio 1

Ocupação Humana

Encontramo-nos um milhão de anos atrás no extremo sul da Península Ibérica, muito antes do início da história, muito antes da origem de Ossónoba, muito menos de Faro, antes dos povoados ou das cidades, o mar esculpe este território junto à costa desde o passado da epopeia do homo-habilis até ao homo-erectus. Existiram por aqui várias espécies que vão culminar com o homo-sapiens e a sua entrada no paleolítico à -100.000 anos a.C e vive exclusivamente em grutas. Esta paisagem humanizada estendia-se pela orla marítima algarvia e era marcada aqui pela antiga lagunar da atual ria formosa e a ocidente com a ria flandriana do Alvor, profundamente entalhadas nas Baías com enseadas interiores outrora existentes.

Do Neandertal ao Homem moderno

Em todo o hemisfério norte as temperaturas descem drasticamente com a glaciação de Würm, aqui o homem de Neandertal cria a edificação da cabana, domina o fogo, utiliza já alguma linguagem rudimentar, mas uma outra espécie aparece na linha da costa e vem também aqui ocupar este mesmo espaço, chega o homo-sapiens-sapiens como atestam diversos achados. À -30.000 anos a.C, o desenvolvimento da nossa espécie o homo-sapiens veio para ficar, apreende desde logo o mundo do alto da consciência da sua vida na explosão do paleolítico superior, durante alguns milhares de anos o modo de vida aqui evolui pouco, é a era dos grandes caçadores que se deslocam da orla costeira cada vez mais para o interior com o aperfeiçoamento de muitas outras ferramentas de sobrevivência.

Junto à orla marítima aparece a indústria Mustierense, *nos últimos -20.000 anos a.C, alguns destes povoados e futuras metrópoles que estavam a algumas centenas de metros da então linha de água foram ficando submersos, terão de ir alguns quilómetros para cima, acompanhados por cataclismos naturais ondas de grandes proporções varrem a costa algarvia, a melhoria climática significativa dos últimos episódios glaciários com a, a paisagem contrastada está na origem de todo o tipo de vegetação e condições favoráveis à vida, o homo-sapiens ganha o seu posto na hierarquia da evolução, ficando como espécie dominante.

O grupo que não quer o mar

"Nasce o dia, sabendo explorar a fundo os recursos do meio ambiente onde estão inseridos, um casal não quer estar junto do mar, observam a orla do maciço calcário, e a serra ao longe do mesmo modo que simultaneamente olham para o mar que se encontra atrás deles. Com seus três descendentes mais um pequeno grupo da comunidade junto ao litoral, tem a iniciativa de deslocar-se para norte ao abarcar numa jornada que terá impacto sobre o futuro desta comunidade humana pré-histórica aqui existente. À -10.000 anos a.C, este grupo caminha para o norte para o sopé da serra carregando os seus acampamentos sazonais de tendas leves até chegarem ao território onde existem duas áreas naturais, o barrocal e a serra. Era um local extensamente florestado com árvores de grande porte, ainda não tinha aparecido o sobreiro, esta zona era bastante mais húmida do que é na atualidade, predominava uma zona densa de carvalhos e os castanheiros este último fruto (castanha) serviria de alimentação. Após a ocupação humana neste território, existe abundância de nascentes, este pequeno grupo de homo-sapiens estabelecem-se construindo antas e menires, como atestam diversos achados por estes vales, lascas de sílex, quartzo entre outros. Serviu como alimentação a apanha de cogumelos, bagas, e mais tarde até a pastorícia e a caça, nasce a arte com o aparecimento civilização Madalenense e ferramentas mais complexas, numa das superfícies de xisto desenham um bovídeo e, na outra, um cavalo."

Neolítico

A linha de tempo não pára, formam-se as civilizações Sauveterróides e Tardenóides à -5.000 anos a.C, o domínio cada vez mais intenso dos meios naturais, a domesticação das plantas, dos animais, favorece ao aparecimento de maiores grupos nestes vales e planaltos aqui existentes, inserindo-se na paisagem variada e particularmente na orla das nascentes e rios. Nos finais do Mesolítico em plena idade do Neolítico, a metalurgia aparece, é a chegada dos metais, pelo menos a do cobre, datável de -3200 a -2800 a.C aparecimento dos monumentos e túmulos Megalíticos em pleno barrocal como a Anta das Pedras Altas situa-se num alto cerro junto ao atual Monte da Mealha. Localizam-se criptas escavadas artificialmente na rocha e usadas como espaços de tumulação, usam como material de construção a pedra da região (o calcário local e o arenito e o xisto da área envolvente), como material de revestimento e ligante a argila local propícia a aparecerem lugarejos pré-históricos nas vertentes do vale de Alportel e do Almargem, milénios de agricultura rudimentar intensiva antes de entrarmos na serra, fontes de água límpida e queimadas que irão dizimar a floresta ancestral. No período Calcolítico, que inicia a partir de -2800 a.C, na envolvente imediata de aglomerado de casas (possivelmente vários sítios ou lugares), ao longo de várias gerações, cerca de duas dezenas de edifícios megalíticos e respectivas áreas cerimoniais conexas, sobre as mesmas pedras que caminhamos, comprova-se a presença humana de um pequeno povoado formando aqui um lugarejo.

Nos primórdios aqui do pequeno povoado, no que se refere à proto-História o desconhecimento é ainda total, nos finais do Neolítico com a revolução agrícola, os recipientes de outrora em pedra são substituídos por argila (barro) e terracota, a difusão da arte (estátuas-menires) bebe os seus motivos entre divindades e acontecimentos da época. Dá-se o aparecimento dos metais, inicialmente a metalurgia do cobre e finalmente o primeira idade do ferro que resultarão num fenómeno de evolução no período compreendido ente -1.500 a.C e -800 a.C e mais tarde repartido por outros séculos futuros e por outros povos que irão explorar toda a jazida de minério existente.

Muito antes do conhecimento ou existência da "Lusitânia" ou mesmo antes ao aparecimento da "Hispânia-Ulterior" que será a futura (Andaluzia), testemunha-se aqui a existência de um povo detentor de uma escrita bastante primitiva adotada antes à chegada dos Fenícios, datável na primeira idade do ferro e que se localiza aqui no sul em todo este território.
A área da sua ocupação é vasta não propriamente só a região agora ocupada pelo Algarve, inicia-se no sentido Norte-Sul desde o baixo-Alentejo estendendo-se até ao fim da zona de fronteira Litoral-Sul e segundo os estudos da região apontam longitudinalmente abrangendo muito além do extremo sul de Portugal, com efeitos também uma boa parte do território de Andaluzia até ao limite de (Múrcia), é um espaço de influência Cónia denominado de "Cyneticum".

Primeira civilização do Sul

Estamos em plena serra na floresta virgem do território "Cyneticum", esta habitada pelos Cónios ou Cinetes (Conii ou Cynetes em latim), um povo formado por várias tribos de filiação linguística e étnica, que se estende da foz do rio Mira à foz do Guadiana ou seja tudo a Oeste do Guadiana pelo interior, abrangendo assim toda a área aqui da Serra do Caldeirão (também denominada Serra de Mu) ocupando estes planaltos e seus vales. Os Cónios vivem aqui em pequenas habitações bastante rudimentares, formando já uma pequena comunidade presente antes do século VIII a.C, a sua origem étnica e linguística foi provavelmente descendente de uma anterior língua falada por pré-celtas e pré indo-europeus, que já eram descendentes da população nativa da Península Ibérica cuja área de origem ainda é tema de debate.

No entanto quanto à palavra escrita está já tem sido parcialmente decifrada como sendo da idade antiga, os Cónios aparecem pela primeira vez na história pela mão do autor e historiador grego "Heródoto" no século V a.C., e mais tarde também referidos por "Avieno", na sua obra "Ode Maritima" e que dá o nome ao vasto território "Cyneticum" representando a maior parte do atual Algarve. A história escrita por estes autores demonstra especificamente como sendo o povo nativo Conii daqui, sendo a cidade principal do país dos Cónios era "Conistorgis", que em língua cónia, significaria "Cidade Real" e que tem sido erradamente considerada uma "Oppido" Celta, destruída pelos Lusitanos a Sul do nosso território e que induzirá futuramente outros povos em erro.

O período áureo desta civilização Cónia dos séculos IX ao V (-1000 a -600 a.C), veio a coincidir com o florescimento do reino de Tartessos ou Túrdulas do século VII (-800 a.C), algo a que não deverá ser alheio a intensa relação comercial e cultural existente entre os dois povos, é possível que fosse relacionado com os Túrdulas, povo cuja filiação linguística e étnica também não está de todo conhecida ou determinada, mas não eram de todo o mesmo povo. Este último povo chega bem mais tarde e irá conseguir manter-se aqui já até próximo do século II a.C, mas aparentemente a única escrita aqui conhecida na região manteve-se como originária dos Cónios. Apesar de co-habitarem por um espaço os Túrdulas estes ficavam situados mais a oriente desta região, herdeiros da cultura megalítica andaluza desenvolvida já em período tardio-Fenício, a sua forma de governo já assentava numa monarquia, e possuíam leis escritas em tábuas de bronze, estes também desapareceram abruptamente da História, seguramente varridos por Cartagineses.

Em nota de rodapé, não queremos por esse motivo deixar de dar uma certa explicação do seguinte:
No início da chegada romana aqui a Sul, (por confusão de povos) começam por apelidar em latim-Romano de Cynetes aos povos que já tinham sido influenciados pelas civilizações mediterrânicas (grega, fenícia e cartaginesa), como explicaremos num episódio posteriormente.

Mas em plena época Romana este povo não é o que os Gregos haviam relatado como Conii, "Cónios" nem o espaço que eles ocupavam já se chamaria Cyneticum antigo, o povo nessa altura aqui presente já era culturalmente um dos mais avançados do atual território e mesmo de toda a Península Hispânica. Já tinham conhecimento da linguagem escrita, tendo mesmo criado e desenvolvido uma escrita própria, a **(Escrita do Sudoeste), designada como **Escrita "Cónia", obviamente que já estamos a falar dos "Lusitanos" que fazem parte da Lusitânia-Hispânica, tudo isto para mais tarde. Esta última escrita, não só era uma escrita semi-silábica e semi-alfabética, que se pode designar já por (semi-silabário), uma escrita que acabou por ficar bem mais completa com a chegada do complexo alfabeto Fenício que a irá assim complementar.


Mas ao voltarmos à história deste povo-tribal Cónio, vemos que muito ainda esteja por escrever e decifrar, pois existe muitas lacunas para preencher, acerca do termo do território propriamente dito como: "Cyneticum" mas podemos afirmar que assim o é!... Pela informação que temos disponível, em termos religiosos a mesma era politeísta e enraizada culturalmente já no fundo mitológico indo-europeu e das línguas e dialetos que daí derivaram, podemos perfeitamente designa-la como a primeira civilização aqui do Sul e que abrange toda a área atual agora ocupada pelo Algarve, incluíndo naturalmente também São Brás de Alportel.

WEBGRAFIA:
*Nestes últimos vinte milénios com a compreensão dos processos geológicos e arqueológico o nível médio do mar na costa algarvia encontrava-se 120 metros abaixo da cota atual. Informações provenientes de diferentes campos científicos como as Geociências e a Arqueologia, juntamente com informações proveniente de meio Subaquático.

LEANDRO INFANTINI DA ROSA
A EVOLUÇÃO DA LINHA DE COSTA ALGARVIA

UNIVERSIDADE DO ALGARVE
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS | DEPTº DE HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA E PATRIMÓNIO - 2008


BIBLIOGRAFIA:
Cyneticum, termo latim para o território do povo Cinetes (Cónios).

**Escrita Cónia, teria-se desenvolvido entre o século X e VIII a.C. e está presente em lápides sepulcrais. Não é consensual a designação
da primeira escrita na península ibérica, para muitos historiadores é chamada a escrita do sudoeste ou sud-lusitana mas concordam em chamar-lhe de "Escrita Cónia", por não estar limitada geograficamente, mas relacionada com o povo e a cultura que criou essa escrita.
Já os linguistas são mais conservadores e apresentam as designações de escrita Tartéssica ou Turdetana, este sendo um povo mais tardio
que já se encontra aqui com a presença dos futuros Lusitanos.



Texto adaptado e publicado por mediaKRIATIVE


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  • Antas e Menires




    Uma das estatuetas-menir -1500 a.C.

    Foto: pág.23 "Atlas Histórico aos nossos dias"


    Neolítico -1500 a.C.




    Cerâmicas pré-História





    Civilização de etnia "Cónios ou Cinetes"



    Escrita-Cónia, escrita semi-silábica e semi-alfabética, século IX a.C.